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Registro da apresentação na Ópera Estatal de Viena [1930], com encenação de Lothar Wallerstein: de pé, Georg Maikl como o Capitão, Josef von Manowarda como Wozzeck e Hermann Wiedemann como o Doutor; sentado, o compositor Alban Berg.

Com a Sala São Paulo mergulhada quase em breu, o maestro Thierry Fischer inicia a música às 18h em ponto desta segunda-feira. Em um canto do palco, o Capitão é barbeado pelo soldado Wozzeck. Eles discutem noções de conduta moral: enquanto o primeiro insinua que, por ter um filho fora do casamento, Wozzeck carece de princípios, o soldado rebate dizendo que a miséria não permite o privilégio da virtude. Assim começa o ensaio geral de Wozzeck, ópera do austríaco Alban Berg que a Osesp apresenta nos dias 2, 4 e 6 de dezembro.

A encenação integra um projeto iniciado por nossa Orquestra em 2023: apresentar na Sala São Paulo, em anos alternados, grandes obras do repertório lírico em formato de concerto. A danação de Fausto, de Hector Berlioz, foi a primeira delas. Nesta Temporada, será a vez de ver e ouvir a impactante Wozzeck, estreada há exatos 100 anos, na Ópera Estatal de Berlim.

Wozzeck é baseada em uma peça que o dramaturgo alemão Georg Büchner deixou incompleta. Dos fragmentos de cenas desordenadas, Berg selecionou 15 para formar uma estrutura compacta de três atos, com cinco cenas cada um. O próprio autor adaptou o libreto, mantendo o caráter essencial da peça, com suas muitas cenas curtas.

Um dos mais requisitados diretores de ópera da América Latina hoje, André Heller-Lopes assina a direção cênica de Wozzeck na Sala São Paulo – a montagem conta com direção musical e regência de Thierry Fischer, participações do Coro da Osesp e do Coro Infantil da Osesp, e a presença de onze cantores solistas. Aproveitamos a ocasião para conversar com Heller-Lopes sobre questões como o conceito de "concerto cênico", a atualidade de Wozzeck e os desafios de encenar essa obra tão densa.

[A imagem que ilustra esta entrevista é um registro da apresentação de Wozzeck na Ópera Estatal de Viena [1930], com encenação de Lothar Wallerstein: de pé, Georg Maikl como o Capitão, Josef von Manowarda como Wozzeck e Hermann Wiedemann como o Doutor; sentado, o compositor Alban Berg.]

Wozzeck é frequentemente anunciada como uma obra inovadora. O que a torna tão singular? Há elementos específicos nesta obra nos quais você recomendaria que o público prestasse atenção?
André Heller-Lopes: Primeiramente, há a questão musical. Para mim, o idioma que Alban Berg escolhe é totalmente original — e moderno ainda hoje, um século depois. Ele consegue uma rara fusão entre lirismo romântico, profundo sentido dramático, modernidade de linguagem harmônica e fluidez entre tonalismo e a atonalismo. Um exercício extremante intelectual que, no entanto, acaba soando perfeitamente natural e longe de uma abordagem pernóstica.

Talvez a primeira coisa a que o público devesse ficar atento seria a passagem dos trechos puramente cantados para os outros em “fala cantada” [Sprechengesang]. Depois, a maneira como cada personagem é caracterizada musicalmente e evitando todo o melodrama. Finalmente, como a orquestração desenha uma verdadeira “cenografia musical” para cada cena.

Que desafios uma montagem de Wozzeck traz para um diretor?
AHL: Para além dos desafios habituais de uma obra tão intensa e teatral, eu destacaria os desafios — maravilhosos — deste projeto específico com a Osesp: estamos falando de um “concerto cênico”, ou seja, uma encenação que tem como ponto de partida trazer a riqueza musical aos olhos do público, indicando climas e movimentos dramáticos mas sem cair em algo exageradamente encenado, mesmo cafona. O desafio de sugerir é o mesmo de despertar no público a curiosidade de buscar saber mais sobre esta ópera tão singular. O concerto cênico não tem a pretensão de substituir cenários e figurinos, ao contrário; da mesma forma que é um veículo para que o público possa ver coisas que, quando uma orquestra está no fosso de um teatro, não poderia enxergar.

Tudo que é novo, é desafiador.

Wozzeck foi encenada pela última vez no Brasil em 1982, no Theatro Municipal de São Paulo. Por que esperamos 43 anos para assistir novamente a esta obra?
AHL: Porque infelizmente há uma ideia torta do que seria um “repertório popular” [como se tivéssemos extensas temporadas de ópera pelo país que tivessem mantido a tradição do tal “grande repertório”]. Como tudo está a ser descoberto, devemos dar acesso e deixar as pessoas escolherem o que mais fala à alma de cada um. Democratizar é estimular, não escolher o que o outro tem [capacidade] de escutar. _Wozzeck _sofre com isso: uns acharão difícil ser em alemão, outros sentirão falta de melodias mais evidentes, outros acharão a história deprimente — por essas pré-concepções, obras geniais como esta acabam passando meio século em silêncio.

A "experiência traumática da desumanização" e a "devastação de uma vida engolida pela injusta violência da engrenagem social" são temas trazidos pelo professor Jorge de Almeida na nota de programa de Wozzeck na Sala São Paulo. Como você relacionaria esta ópera com o mundo de hoje, exatos cem anos após sua estreia [que aconteceu em dezembro de 1925]?
AHL: Ao estudar a obra de Büchner para este espetáculo, me deparei com a informação de que uma das últimas coisas que ele escreveu antes de sua morte precoce [deixando Woyzeck apenas em fragmentos] foi algo como um tratado sobre a dissecção de um cérebro: é curiosa essa obsessão por entender o que se passa dentro do homem.

Wozzeck talvez seja isso: a autópsia de uma personalidade que, ao longo da obra, vai tendo sua alma repetidamente esfacelada. É um personagem muito triste. Um século depois, vivemos de guerra em guerra, nesse processo de desumanização; nessa educação para a violência, especialmente evidente nos homens. Pior, vivemos numa era de manipulação de verdade e de uma profusão de pessoas gritando análises supérfluas sobre política e sociedade, baseadas sabemos lá em que informação aproximativa de rede social. Falta leitura, falta acesso à educação e cultura — exatamente o mesmo que faz Wozzeck tornar-se assassino.


2, 4 E 6 DE DEZEMBRO

OSESP
CORO DA OSESP
CORO INFANTIL DA OSESP
THIERRY FISCHER regente
ROBIN ADAMS Wozzeck
JASON BRIDGES Andres
ASTRID KESSLER Marie
MARKUS HOLLOP doutor
THOMAS EBENSTEIN capitão
ROBERT WATSON tambor-mor
LUISA FRANCESCONI Margret
SAVIO SPERANDIO jovem artesão I
MICHEL DE SOUZA jovem artesão II
JABEZ LIMA bobo e soldado
RAFAELA SINHOR filho de Wozzeck e Marie
ANDRÉ HELLER-LOPES diretor cênico

ALBAN BERG Wozzeck, Op. 7

Saiba mais sobre Wozzeck com a Osesp na Sala São Paulo clicando neste link.

[Entrevista concecida a Fabio Rigobelo, Assessor de Comunicação da Fundação Osesp.]

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