Temporada 2024
abril
s t q q s s d
<abril>
segterquaquisexsábdom
25262728293031
123 4 5 6 7
8 9101112 13 14
151617 18 19 20 21
222324 25 26 27 28
293012345
jan fev mar abr
mai jun jul ago
set out nov dez
PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
03
nov 2018
sábado 16h30 Ipê
Temporada Osesp: Stutzmann e Tamestit


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Nathalie Stutzmann regente
Antoine Tamestit viola


Programação
Sujeita a
Alterações
Gioacchino ROSSINI
Guilherme Tell: Abertura
Johann Nepomuk HUMMEL
Potpourri (Fantasie) para Viola e Orquestra em sol menor, Op.94
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia nº 7 em Lá Maior, Op. 92
INGRESSOS
  Entre R$ 50,00 e R$ 222,00
  SÁBADO 03/NOV/2018 16h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Falando de Música
Quem tem ingresso para o concerto da série sinfônica da temporada da Osesp pode chegar antes para ouvir uma aula em que são abordados, de forma descontraída e ilustrativa, aspectos estéticos das obras, biografia dos compositores e outras peculiaridades do programa que será apresentado em seguida.

Horário da palestra: uma hora antes do concerto.

Local: Salão Nobre ou conforme indicação.

Lotação: 250 lugares.

Notas de Programa

GIOACCHINO ROSSINI [1792-1868]
/150 ANOS DE MORTE
Guilherme Tell: Abertura [1824-9]
12 MIN


JOHANN NEPOMUK HUMMEL [1778-1837]
Potpourri (Fantasie) Para Viola e Orquestra em Sol Menor, Op.94 [1821]
20 MIN


/INTERVALO


LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770-1827]
Sinfonia nº 7 em Lá Maior, Op.92 [1811-2]
- POCO SOSTENUTO. VIVACE
- ALLEGRETTO
- PRESTO
- ALLEGRO CON BRIO
36 MIN

 

Quando, em 1822, Beethoven e Rossini se encontraram pela primeira vez – na celebrada visita do italiano a Viena –, simbolicamente reuniram-se na mesma sala dois mundos diametralmente opostos: de um lado a tradição germânica da música instrumental e absoluta, de outro a tradição italiana da ópera, considerada pela primeira como música frívola. O  desentendimento era previsível: os dois mal conseguiram conversar (Beethoven, aos 51 anos, já estava praticamente surdo), e Rossini (que aos 30 anos já gozava de fama e sucesso) horrorizou-se com as condições insalubres da casa de Beethoven. O desconcerto culminou com a recomendação de Beethoven para que Rossini continuasse compondo apenas óperas bufas – conselho que o italiano não seguiu: dois anos depois ele começaria a trabalhar em Guilherme Tell, uma ópera séria de grandes proporções.

 

A emblemática anedota – epíteto do antagonismo entre duas correntes fundamentais da música no século xix, apontado por Dahlhaus (1) – mascara relações entre as obras desses compositores (2). Ambos partilharam visões de mundo de uma mesma época e, se Beethoven desdenhava da produção de Rossini – “um belo talento e belas melodias vendidas ao alqueire”, em suas palavras (3) –, este admirava suas sonatas para piano, seus quartetos e a Sinfonia nº 3 – Eroica. A influência de Beethoven está especialmente presente nas aberturas de Rossini, com a utilização de recursos composicionais semelhantes (4). O libreto de Guilherme Tell, aliás, baseia-se na obra homônima de Schiller (1759-1805) – mesmo autor da Ode À Alegria incorporada à Nona Sinfonia. É significativo que os dois compositores tenham silenciado à mesma época: Beethoven faleceu em 1827, enquanto Rossini compunha sua derradeira ópera – justamente, Guilherme Tell (ele então se aposentou como compositor, embora ainda fosse viver 39 anos).

 

O paradoxo da rivalidade e proximidade entre compositores contemporâneos também se expressa na relação entre Beethoven e Hummel. Johann Nepomuk Hummel (1778-1837) nasceu em Bratislava e despontou como criança prodígio. Dos oito aos dez anos morou com Mozart como seu pupilo, estudou com Haydn – que, recém-aposentado, o indicou como chefe de orquestra na corte de Esterházy –, e foi reconhecido como um dos compositores e pianistas virtuoses mais célebres da Alemanha, ocupando na maturidade o posto de mestre de capela de Weimar, outrora pertencente a J. S. Bach. Foi professor de Carl Maria von Weber, contribuiu para o reconhecimento do jovem Schubert, e sua música exerceu influência sobre Chopin e Liszt. Quando se fixou em Viena, no final do século xviii, Hummel passou a disputar com Beethoven, oito anos mais velho e já bem estabelecido, as atenções e favores do público. O estranhamento inicial entre os dois – avultado pelo casamento de Hummel com a cantora Elisabeth Röck, de quem Beethoven também era admirador – evoluiu para uma relação amistosa que se perpetuou até o leito de morte de Beethoven. Como confidenciaria depois a um aluno (5), Hummel reconhecia a intimidante genialidade do adversário e, talvez por isso, nunca tenha se arriscado a compor uma sinfonia. Sua obra situa-se na transição estilística do Classicismo para o Romantismo e, ironias à parte, também incorpora influências de Rossini.

 

ROSSINI
Guilherme Tell: Abertura

 

Em 1824, a reputação internacional de Rossini rendeu-lhe o cargo de diretor do Teatro Italiano de Paris. Guilherme Tell, iniciada nesse ano para a Ópera de Paris, é uma grand opéra – gênero francês de ópera séria com dimensões volumosas. Cantada em francês, ela narra o episódio da libertação da Suíça da pujança austríaca dos Habsburgo, no século xiv, liderada pelo herói (talvez mítico) do título – o tema ressoa os ecos Revolução Francesa, que a monarquia restabelecida procurava silenciar (é surpreendente que não a tenha censurado). Na celebrada abertura, Rossini evoca a paisagem dos Alpes em três momentos: o alvorecer, na introdução Andante; uma tempestade, em Allegro; e a calmaria após a tempestade, em outro Andante com melodias pastoris. O ápice acontece quando os trompetes anunciam a Marcha dos Soldados Suíços – o conhecido tema da cavalaria –, que avança em um crescendo patriótico.


HUMMEL
Potpourri (Fantasie) Para Viola e Orquestra em Sol Menor, Op.94

 

Dedicada a um amigo violista, a Potpourri (Fantasie) amalgama de forma livre melodias conhecidas de árias de Mozart – das óperas Don Giovanni e As Bodas de Fígaro – e Rossini – da ópera Tancredi. Embora a peça esteja oficialmente em Sol Menor, somente a introdução Grave ocorre nessa tonalidade, sendo Ré Maior a sonoridade preponderante dentre as surpreendentes modulações. A obra original foi por muito tempo obscurecida por uma versão reduzida e incompleta, que não fazia jus à riqueza de sua orquestração (6).


LUDWIG VAN BEETHOVEN
Sinfonia nº 7 em Lá Maior, Op.92

 

Composta em 1812, paralelamente à Oitava Sinfonia, a tempestuosa Sétima reverbera o pathos do recente encontro de Beethoven com sua misteriosa Amada Imortal – a mais intensa das paixões impossíveis do compositor – especialmente, talvez, no expressivo segundo movimento. Os marcantes ritmos de dança, presentes em toda a obra, mesclam-se a melodias folclóricas na maior sinfonia que Beethoven escrevera até então. A première, regida pelo compositor, foi um sucesso. No mesmo concerto, Beethoven estreou também uma obra menor, A Vitória de Wellington, composta sob encomenda por razões financeiras (7). Dentre os ilustres músicos que integraram a apoteótica orquestração, na seção rítmica estavam Hummel e ninguém menos que Meyerbeer, ícone da grand opéra, a quem Beethoven acusou de estar sempre atrasado no tempo.

 

 

1 DAHLHAUS, Carl. Nineteenth-Century Music. Berkeley: University of California Press, 1989.
2 MATTHEW, Nicholas & WALTON, Benjamin. The Invention of Beethoven and Rossini: Historiography, Analysis, Criticism. Cambridge & New York: Cambridge University Press, 2013.
3 SWAFFORD, Jan. Beethoven: angústia e triunfo. Barueri: Amarilys, 2017, p. 737.
4 BURNHAM, Scott. “Making Overtures”. In MATTHEW, Nicholas & WALTON, Benjamin. The Invention of Beethoven and Rossini: Historiography, Analysis, Criticism. Cambridge & New York: Cambridge University Press, 2013, p. 197-209.
5 Site The Hummel Project [www.jnhummel.info].
6 SHELLEY, Howard. Encarte do CD Hummel, do selo Chandos, gravado em 2004 por James Ehnes (violino e viola), Howard Shelley (piano e regência) e a orquestra de câmara London Mozart Players.
7 Beethoven perdera dois dos seus três patronos: o Príncipe Kinsky falecera em 1812, e o Príncipe Lobkowitz estava à beira da falência. Restava ao compositor apenas o apoio do Arquiduque Rudolph, que permaneceu seu principal benfeitor até o fim de sua vida (LOCKWOOD, Lewis. Beethoven’s  Symphonies: An Artistic Vision. New York & London: W. W. Norton).

 

JÚLIA TYGEL é pianista, compositora e professora
na Faculdade de Música Souza Lima e no
Ensino à Distância da UFSCar. É doutora em
Música pela USP, com estágio na City University
of New York como bolsista CAPES/Fulbright.


Leia o ensaio "A Era de Beethoven", de Arthur Nestrovski, aqui.


Leia um excerto do ensaio "Prefácio a Vida de Rossini", de Lorenzo Mammì, aqui.


Leia o ensaio "Signor Tambourossini", de Larry Wolff, aqui.