Temporada 2024
abril
s t q q s s d
<abril>
segterquaquisexsábdom
25262728293031
123 4 5 6 7
8 9101112 13 14
151617 18 19 20 21
222324 25 26 27 28
293012345
jan fev mar abr
mai jun jul ago
set out nov dez
PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
19
out 2017
quinta-feira 10h00 Ensaio Aberto
Ensaio Aberto: Alsop e Stutzmann


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Marin Alsop regente
Nathalie Stutzmann contralto
Coro Acadêmico da Osesp
Coro da Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações
Johannes BRAHMS
Abertura Trágica, Op.81
Rapsódia para Contralto, Coro Masculino e Orquestra, Op.53
Richard STRAUSS
Uma Vida de Herói, Op.40

 

Durante o Ensaio podem acontecer pausas, repetições de trechos

e alterações na ordem das obras de acordo com a orientação do regente. 

INGRESSOS
  R$ 10,00
  QUINTA-FEIRA 19/OUT/2017 10h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

BRAHMS

Abertura Trágica, Op.81


Brahms consagrou-se como um dos grandes defensores da chamada “música pura”, que não precisaria se apoiar em narrativas literárias (ou de qualquer ordem) para “fazer sentido”. Não espanta que a escolha de títulos para suas poucas obras que fogem da simples catalogação por número de opus (ou sequência de obras em determinado gênero) tenha sido sempre algo fortuita.


Poucos meses depois de compor seu Op.80, a Abertura do Festival Acadêmico, em 1879, Brahms escreveu uma nova abertura, de caráter oposto. Em carta a seu velho amigo Bernhard Scholz, diretor da sociedade sinfônica de Breslau, o compositor apresenta a criação e pergunta: “É uma abertura ‘Dramática’, ou ‘Trágica’, ou ‘Fúnebre’. Veja que, mais uma vez, sou incapaz de encontrar um título — pode me ajudar?”. Sem solução melhor, o Op.81 acabou ficando conhecido como Abertura Trágica.


A peça inicia com dois acordes tocados pela orquestra completa; dois ataques secos, que surpreendem o ouvinte desatento. Os tímpanos rugem e as cordas em uníssono apresentam o vigoroso primeiro tema, marcado por uma certa ambiguidade harmônica e pela austeridade da orquestração. O segundo tema tem caráter mais lírico e é harmonizado com maestria, garantindo o contraste característico da forma-sonata. Brahms desacelera o andamento e propõe um desenvolvimento em ritmo de marcha, numa seção central de extrema delicadeza. A recapitulação não abandona o clima camerístico
 do desenvolvimento e os elementos dramáticos (ou “trágicos”) reaparecem apenas na coda, garantindo um desfecho enfático.


RICARDO TEPERMAN é doutor em Antropologia pela USP

e editor na Companhia das Letras.

 


BRAHMS

Rapsódia Para Contralto, Coro Masculino e Orquestra, Op.53


Em 1869 Brahms se apaixona por Julie, de 23 
anos, filha do casal Schumann. Mas eis que Clara anuncia ao amigo o noivado de sua filha com o conde Victor Radicati di Mormorito. Clara escreveu depois, relatando o acontecimento: “Ele (Brahms) pareceu totalmente surpreso, e permaneceu imóvel. Fechou-se em sua velha melancolia”.


O presente de casamento de Brahms à sua amada foi a Rapsódia Para Contralto, Op.53. Clara Schumann diria ainda que considerava essa obra como a expressão de um profundo sofrimento. Brahms partiu de três estrofes de um poema escrito por Goethe, que evoca uma travessia sob a neve das montanhas do Harz, região de florestas e de lendas fantásticas. O texto fala de solidão, de dores da alma, e termina com uma súplica de paz.


Às três estrofes correspondem as três partes musicais da obra. Um adágio abre a introdução orquestral escura, atormentada, por onde perpassam espasmos de angústia. Em seguida, no segundo momento, a voz do contralto se eleva, comovente. É uma queixa dolorosa e um pedido de ajuda. Enfim, na terceira parte, intervém o coro masculino, iniciando em pianíssimo, como num sussurro. A voz solista parece flutuar sobre o coro, e a dor concentrada se transforma em oração.


[...]


A Rapsódia foi estreada no dia 3 de março de 1870 com imenso sucesso, tendo como solista a célebre cantora Pauline Viardot.

 

JORGE COLI é diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp,

professor na área de História da Arte e da Cultura na mesma instituição

e autor, entre outros, de A Paixão Segundo a Ópera (São Paulo: Perspectiva, 2003).

 

STRAUSS

Uma Vida de Herói, Op.40 /O HERÓI


[...]


“Eu vi o imperador — esta alma do mundo — sair da cidade para admirar o seu reino; é realmente
 uma sensação maravilhosa ver tal indivíduo que, concentrado num ponto, montado a cavalo, se estende sobre o mundo e o domina”, (1) descreveu Hegel depois de ter presenciado Napoleão Bonaparte passar em revista as suas tropas no dia da Batalha de Jena, em 13 de outubro de 1806.


O herói romântico é precisamente essa anima
 mundi, o ponto subjetivo que abarca com sua figura o mundo concreto. Um pouco antes, em 1804, Beethoven intitulara a sua Sinfonia nº 3 de “Bonaparte”, em homenagem ao cônsul francês, que atualizava a República romana na modernidade, encarnando valores antimonárquicos. Quando Napoleão se torna imperador, no mesmo ano, Beethoven retira o título da sinfonia, que passará a ser chamada de Eroica. Entre
 a efusão de Hegel e a rebelião de Beethoven temos o vasto espectro da ambivalência romântica com relação a Napoleão, matriz histórica de todas as figuras românticas do herói.


O poema sinfônico, ou “poema tonal”, Uma Vida de Herói [Ein Heldenleben], de Richard Strauss, narra precisamente a história de um herói desse tipo. A referência é explicitamente a Eroica de Beethoven, de que Strauss guarda a tonalidade de Mi Bemol Maior.
 O herói é uma projeção do próprio Strauss, como o compositor admitiu a Romain Rolland: “Não vejo por que não devo compor uma sinfonia sobre mim mesmo; acho-me tão interessante quanto Napoleão ou Alexandre”. (2)


Strauss desenvolve a técnica da música de programa proposta por Liszt como resposta ao poema dramático wagneriano. Em “O Herói” abundam as trompas, como “medida do heroísmo”, diz o compositor. No movimento seguinte, “Os Adversários do Herói”, a música alfineta os críticos que comentaram negativamente a obra de Strauss, com figuras rápidas de flautas, clarinetes e oboés (que deveriam “rosnar”).


O segmento “A Companheira do Herói” nos apresenta a sua mulher, a soprano Pauline de Ahna, representada pelo violino solo. A seção “O Campo de Batalha” contém passagens ruidosas e dissonantes, extremamente ousadas para a época. Na seção “Esforços Pela Paz”, Strauss relembra motivos de suas obras anteriores: Don Juan, Assim Falou Zaratustra, a ópera Guntram.


Por fim, “A Retirada do Herói e Conclusão” começa com uma melodia pastoral tocada pelas trompas e conclui-se com o retorno da mesma melodia da esposa, Pauline, enunciada pelo violino solo. Os ataques dos críticos ao compositor retornam ainda, mas a violência é apaziguada pela voz da companheira do herói.

 

1. HEGEL, G. W. Friedrich. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 2000.
2. ROLLAND, R. e STRAUSS, R. Richard Strauss et Romain Rolland: Correspondance, Fragments de Journal. Paris: Albin Michel, 1951.

 

JOÃO CAMILLO PENNA é professor de

Literatura Comparada e Teoria Literária da UFRJ.